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Você sabia que, no início do século XX, algumas fazendas de café foram pioneiras no tocante à propaganda e marketing do café Brasileiro? Para entender o que aconteceu, vamos conhecer um pouco da história de Ferrigno o pintor do café.
Em tempos idos do Brasil Império a cafeicultura foi a alavanca que impulsionou a economia brasileira. Por sua importância e valor, o café era denominado Ouro Verde das terras brasilis.
Mas a riqueza e os louros nem sempre foram o dia a dia dos grandes e pequenos cafeicultores. Dificuldades advindas de impostos, pragas, preço da saca, sem contar a superprodução, enfim detalhes pouco falados, mas muito sentido em vários momentos da produção cafeeira.
Nos conta a história que por volta de 1893, os cafeicultores passam a enfrentar diversas crises principalmente devido à superprodução cafeeira, que levou o governo a limitar, por meio de lei, as plantações de café. Preocupados com o que poderia vir a ocorrer, os fazendeiros buscavam soluções e foi nesse momento que o Conde de Serra Negra, Manoel Ernesto da Conceição, produtor de café da região de Botucatu, um estrategista por natureza, ao ver seu café estocado, sem perspectiva de venda, arquitetou formas de vencer a batalha contra a queda econômica que assolava a lavoura de café.

Sua proposta era realizar uma campanha de propaganda do café brasileiro na Europa, visando o aumento da importação do produto. O conde e mais 217 cafeicultores se uniram e delinearam a campanha. No início a ação não foi levada adiante, pois a guerra assolava a Europa, mas no início do século XX o Conde retomou o projeto ao conhecer Antônio Ferrigno, pintor paisagista italiano.
Nesse tempo não havia agências de propaganda e marketing. O trabalho era realizado por artistas pintores e desenhistas por meio de encomenda. Ferrigno, era paisagista conhecido, cuja paleta evidenciava os tons terrosos das lavouras cafeeiras, o que veio de encontro ao pensamento do Conde.
Ferrigno abraçou a causa, partiu para a fazenda e com seus traços e cores  retratou a beleza e a exuberância da Fazenda Vitória e sua lavoura de café em dez obras que para alegria do Conde, divulgaram o café brasileiro por toda a Europa, participando de várias exposições de café.

O sucesso da campanha foi grande, e se espalhou entre o meio cafeeiro. Ferrigno passou a ser contratado por vários cafeicultores para registras as fazendas e o trabalho na lavoura de café. Entre os trabalhos realizados pelo artista, destaca-se a série de obras produzidas na Fazenda Santa Gertrudes[2], na região de Limeira, por encomenda do Conde Prates, Eduardo da Silva Prates.
O artista registrou com maestria o processo do café, da florada à expedição das sacas para a estação ferroviária. As obras, em número de cinco, foram aprovadas pelo governo brasileiro para participar da Exposição Universal de Saint Louis em 1904[3], representando a vida e a lida nas lavouras cafeeiras. As obras, doadas ao Museu Paulista, fazem parte da narrativa da cafeicultura em terras paulistas, ali preservada.

Antônio Ferrigno, nos traz com sua paleta de tons terrosos, a lavoura de café, com seus traços encantados as texturas das folhas, os nuances dos frutos e a delicadeza da florada.  Suas obras eternizaram fazendas por todo território paulista. São registros da gente simples, sua lida, seu jeito de ser e de viver o que lhe deu o título de Pintor do Café.
Entre o século XIX e as primeiras décadas do século XX, o café foi tema de narrativa para muitos artistas. Dentre eles destacam-se Benedito Calixto, e Portinari. A temática de Portinari, diferente de Ferrigno e Calixto, evidência o trabalhador, pois nascido em terras de produção do café, o artista trazia além das cores da lavoura a memória viva dos rostos e mãos que fizeram do café a riqueza brasileira. Sua obra fala e dá vida ao lavrador cafeeiro e aos campos verdejantes que desenham em curvas a prosperidade do café. Assim como Ferrigno, Portinari recebe o título de Pintor do Café, por sua contribuição no registro e propagação da cafeicultura.
O café despertou várias interpretações, quer literárias, quer pictóricas, que em épocas diferentes foram propagandas do café brasileiro.